quarta-feira, 24 de junho de 2015

Nós amamos as mulheres malucas



As equilibradas que me perdoem, mas maluquice é fundamental. 
Queremos mulheres a beira de um ataque de nervos.
Mulheres que cantem bem alto o que querem e dancem sozinhas no meio da sala, girando na frente dos convidados do jantar, logo depois de pedir a eles que se retirem pois “o casal agora vai para o quarto”. 
Queremos mulheres que cuspam na nossa cara as inquietações, as vontades e não-vontades, a maluquice de sempre, porque mulher sem maluquice não é mulher, é um troféu que você esquece no alto da estante.
Mulher tem que ser doida de pedra. 
Mulher que não enlouquece, não embarga a voz, não lacrimeja porque a quirche não ficou boa, o bolo solou, o esmalte borrou. 
Essa a gente prefere olhar de longe, desconfiado.
Aí tem coisa muito errada. Mulher que não soluça em novela mexicana? 
Mulher madura, calma? 
Não, essa não. 
A gente ama é um dramalhão.
Se elas não saem do sério a gente não se sai bem no amor. 
A patricinha montada e sonsa nos cansa e a perfeita elegância das modelos longilíneas e impecáveis nos entedia. 
Queremos unha quebrada. Grito assustado no meio da noite. 
Abraço com lágrimas de “cuida-de-mim”. 
Queremos dizer “não foi nada” quando elas ralarem a lanterna traseira do carro no pilar da garagem.
Quanto mais louca mais linda, mais apaixonante. 
A fragilidade emocional da mulher não edifica uma pseudo-superioridade masculina.
 Essa fragilidade pode ser o combustível da ternura, do afeto. 
Podemos até admirar mulheres duronas, equilibradas, constantes. 
Mas o que nos deixa desnorteados, patetas apaixonados, bobos mesmo, é a mulher maluca. 
Só a mulher maluca é capaz de fazer gato e sapato da nossa vida.
Por isso eu adoro Mabel, a personagem adorável do filme “Uma Mulher sob Influência”, de John Cassavets. Ela é só um exemplo de mulher amada intensamente por ser exatamente o que é – apaixonantemente maluca.


(Escrito por Thiago Lira)

Quando eu li esse texto me identifiquei... não sei por quê...

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